sábado, 1 de janeiro de 2011

Um pouco antes de 2011

Agora são 20:43 do dia 31 de dezembro de 2010, mas isso só será publicado no dia 1 de janeiro de 2011 pois estou na casa da minha avó e aqui não tem internet, cheguei a pouco tempo aqui e estou muito triste e bravo, pois eu vi uma cena chocante no caminho entre meu apartamento e a casa da minha avó, essa cena foi em algum lugar no meio da Vila Industrial, um bairro da zona leste de São José dos Campos – SP.

Eu vi um homem de meia idade moreno agarrando o pescoço de uma mulher negra numa esquina, eu percebi o desespero, a dor da mulher na cara dela, fiquei horrorizado com aquilo, dava para perceber ela chorando e ele gritando com ela, eu apenas passei por aquela esquina, pois meu pai estava cortando caminho por dentro do bairro para chegar a um posto de combustível. Eu perguntei para minha mãe:

-Mãe, você viu aquilo?

-Sim

-Você não vai ligar para policia?

-Não

-Por quê?

-Porque não é problema nosso – Meu pai fala. –

Tentei argumentar com meu pai que isso era sim problema nosso, que nós deveríamos ter chamado a policia, mas isso foi em vão, como eu não sabia a rua em que estávamos, eu não pude ligar para a policia. O único argumento que ele teve para não ligar para a policia era que ele não conhecia a mulher.

Mas como assim, só porque ele não conhece a mulher ele tem que ignorar o problema dela assim, isso é desumano, nem minha mãe intercedeu pela mulher, ela apoiou meu pai. Quando ela apoiou o meu pai, foi como se eu perdesse o chão, minha mãe sempre foi a pessoa ética em casa, sempre defendia os princípios certos, os princípios humanos, católicos, defendia a vida em toda a forma, e agora quer apena ignorar essa mulher porque é o ultimo dia do ano e que festejar na casa da minha avó.

Não pensei que minha mãe tivesse tanta frieza em deixar um ser humano sofrer, uma mulher, talvez mãe, mas eu não sei, como meu pai disse, eu não conheço ela, nenhuma das duas, e eu achava que conhecia minha mãe, mas não conheço.

Como nós podemos dizer que conhecemos alguém, não podemos ter certeza, as pessoas escondem segredos, mentem, omitem. E mesmo assim nos importamos com as pessoas, mesmo sem conhecer, nós a amamos, cuidamos, e nos preocupamos. Isso é questão de amor, não de conhecimento.

Se importar com alguém é questão de conhecimento?

Então meus pais não se importam comigo, eles não me conhecem.

Meus pais não sabem quem são meus amigos, não sabe o que gosto de comer, o que gosto de ouvir, o que gosto de vestir, o que gosto de usar, o que gosto de fazer, o que gosto de olhar, o que quero falar, com quem quero estar, e com que não quero. Eles apenas supõem algumas coisas, mas saber não sabem, acho que só meu nome eles tem certeza, mas eu quero mudar o nome, então logo nem isso saberão mais.

Então porque meus pais dizem que se importam comigo, se eles não me conhecem?

Então o ato de se importar tem haver com sentimento?

Bom, é a melhor opção, pois isso significaria que eles sentem algo por mim.

Mas se essa for a opção, quero entender como sou filho deles, eu amo o próximo, eu gosto das pessoas, por piores que sejam, eu me importo, mesmo que eu não conheça, me importo, mesmo que eu nunca tenha visto eu me importo.

Agora vejo que minha mãe deve ser uma hipócrita, ou pelo menos ter sido hipócrita naquele momento, pois eu me lembro que quando ela começou a usar o e-mail ela sempre que recebia um slide de criançinhas passando fome na África, ou sendo exploradas na Ásia, ela me enfiava, e me obrigava a ver os slides para que eu me importasse e ver como eu tenho sorte de ter uma casa, uma família( que família néh?), mas ela também dizia que eu deveria me importar com os outros. Mas ela não se importa com os outros, porque eu devo? Eu não devo me importar, mas eu quero me importar, quero que as pessoas sejam bem tratadas, não sejam humilhadas, oprimidas, agredidas, rejeitadas.

As pessoas não deveriam ignorar os problemas que estão envolta dela, mesmo que pareça que não vai afetar diretamente, pois um dia pode ser com alguém que essa pessoa se importe.

Mas não é só isso que me tortura, também me tortura o que não sei, me pergunto se a mulher está bem, se isso vai acontecer novamente, e se isso vai causar coisas piores apenas porque não chamamos a policia.

Espero que a mulher fique bem.

Boa sorte a todos.

Feliz 2011!

Se puder...




Hugo Mattos

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